A arte hoje não se define mais como aparição sensível da ideia ou da verdade. Ela não diz mais. No máximo, sugere. Isso quer dizer que sua significação é algo que apenas se acena de longe pelos significados postos e propostos pela obra. Ela é antes ausência que presença, antes um balbuciar do que uma fala. Como diz Paul Celan: NENHUMA ARTE DE AREIA MAIS, nenhum livro de areia, mestre nenhum. Nada de lance de dados. Quantosmudos?Dez e sete. Tua pergunta (...) – tua resposta.Teu canto, o que sabe? Fundonaneve, Uonaeve, U – e – e. (shrink)

Eu estava no campinho de futebol da casa dos meus pais, os quero-queros tinham feito ninho e seus três filhotes pequenos estavam aprendendo a comer bicando lá sei eu o quê numa parte mais úmida, onde nas chuvas corria uma fonte. Quando os quero-queros faziam ninho, cessavam todas as peladas. Não havia nem discussão, afinal eles moravam aí antes de chegarem os humanos, o terreno era deles, nós éramos os invasores. Um gato espreitava os filhotes, pronto para dar o bote. (...) Em vez de dar de ombros e dizer “é a lei da natureza”, espantei o gato. (shrink)

Fala-se em fake, mas não se admite que milagres de Cristo ou hagiografias de santos poderiam ser fakes também. As religiões treinaram, no entanto, os políticos no sentido de esperarem que se acredite no que dizem, por mais absurdo que seja. Com que concepção de verdade se tem operado? É possível “operar” com ela, como se coisa fosse, um instrumento? Ou ela nos é, nos abrimos à verdade que em nós assoma e se torna palavra e imagem?

Pascal assegura que acima de tudo ele preza a honestidade, mas tem um pensamento curto que diz “poète, et non honnête homme”. A ficção seria uma desonestidade. Outro pensamento comenta o provérbio latino “in vino veritas”, dizendo que é preciso não haver vinho demais nem vinho de menos para buscar a verdade. Se o vinho é o acesso ao subconsciente, isso significa que é preciso ampliar a racionalidade para além do âmbito consciente. Será que Pascal, saindo da ciência e se (...) tornando monge católico, era honesto a ponto de acusar os poetas de serem desonestos, por que não ver antes a desonestidade nas crenças? Ele acreditou na ficção do “milagre do espinho de Port Royal” e nas ficções produzidas por poetas em Roma sobre Cristo. (shrink)

A mímese foi fundante na tradição judaico-cristã por causa da crença de que Jeová teria feito o homem “à sua imagem e semelhança”. Isso poderia ter sido entendido que o homem teria sido feito semelhante a si mesmo, mas ele preferiu acreditar que era parecido com Deus. Não entendeu que a divindade poderia ser parecida com ele, uma projeção cósmica. Descartes observou que Deus e homem seriam antitéticos: um seria eterno, o outro finito; um onisciente, outro de parco saber; um (...) todo poderoso, outro de poucas forças; um onipresente, outro estando em um só lugar. A vaidade se sobrepõe à racionalidade. (shrink)

Eu tinha uma sombra em mim, tão obscura que não a conhecia nem reconhecia. Nas sombras de mim mesmo ela se perdia. Só quando senti a sombra que em ti havia e me impedia de me aconchegar em ti, passei a suspeitar da extensa sombra que se estendia, assombrando a mente que eu tão lúcida pretendia.

"A arte que servisse para enaltecer a grandeza dos senhores e mostrar a baixeza dos escravos estava aí dentro dos padrões da “veritas aestheticologica”. Isso pode ser comprovado em Aristófanes e Plauto, como em Homero e Platão. O cristianismo contrapôs a tese de que todos os humanos teriam alma, mas soube conviver com a escravidão durante séculos, inclusive sacramentando-a como vontade divina (baseando na suposta maldição de Noé). Baudelaire fez, porém, no poema sobre “A raça de Caim”, a inversão do (...) discurso bíblico. Quando se fala sobre a escravidão antiga, parece que o problema não nos afeta: nosso “correto” não vê o assalariado, o desempregado e quem vive de bicos como escravos modernos, mais baratos que os antigos. Não nos preocupamos com o que incomoda. [...]. (shrink)

A Estética deriva de uma crença que pode conter um erro grave, nos fundamentos, e toda sua edificação pode afundar. Oriunda da metafísica psicológica, ela pressupõe que o homem se divida em corpo e alma, como instâncias separáveis, tendo a alma prioridade por ser imutável, eterna e independente do corpo. Assim como a Lógica cuidaria das ilações da alma em termos analíticos, a Estética cuidaria das percepções corporais, das imagens corpóreas. Essa concepção cristã está presente em Descartes, Leibniz, Wolff, Baumgarten, (...) Kant, Fichte, Solger, Hegel e vários outros. (shrink)

Ter uma noção mais clara sobre o que possa ser a verdade é central não só para a ciência, também não só para a filosofia, mas também para a arte. Há uma longa tradição filosófica que diz, com Aquino, que o belo é o resplendor da verdade ou, com Hegel, que o belo é a aparição sensível da ideia. Para o idealismo alemão, a ideia tinha de ser verdadeira, pois se não ela seria apenas um palpite infeliz. Como a verdade (...) permite distinguir o que é justo e correto, o que vale e o que não tem valor, ela também é central para a vida das pessoas, para as grandes decisões que precisam tomar e para a estruturação do seu dia a dia. (shrink)

In cognitive science, there is a tacit norm that phenomena such as cultural variation or synaesthesia are worthy examples of cognitive diversity that contribute to a better understanding of cognition, but that other forms of cognitive diversity (e.g., autism, attention deficit hyperactivity disorder/ADHD, and dyslexia) are primarily interesting only as examples of deficit, dysfunction, or impairment. This status quo is dehumanizing and holds back much-needed research. In contrast, the neurodiversity paradigm argues that such experiences are not necessarily deficits but rather (...) are natural reflections of biodiversity. Here, we propose that neurodiversity is an important topic for future research in cognitive science. We discuss why cognitive science has thus far failed to engage with neurodiversity, why this gap presents both ethical and scientific challenges for the field, and, crucially, why cognitive science will produce better theories of human cognition if the field engages with neurodiversity in the same way that it values other forms of cognitive diversity. Doing so will not only empower marginalized researchers but will also present an opportunity for cognitive science to benefit from the unique contributions of neurodivergent researchers and communities. (shrink)

Coletânea de resenhas e artigos organizada pelo poeta e editor Wilbett Oliveira: SUMÀRIOPARTE UM — RESENHAS 11 Sobre as paixões por Clarice LispectorWilbett Oliveira 19 Sobre o romance “Canibalismo de Outono”, de Arturo GouveiaCícero Émerson do Nascimento Cardoso 27 Sobre “A poesia na precariedade do existir”Joel Cardoso 33 De norte ao sul do Brasil: pontos de convergênciaEster Abreu V. de Oliveira 43 Desvelando méritos ocultos Luiz Eduardo de Carvalho 49 Inventário para a poesia experimental portuguesaRodrigo da Costa Araujo 55 “Vaca (...) Profana”: um mundo lírico e divertidoAdelto Gonçalves 63 Sobre o “Soneto 155”, de Norma Doront StrafArturo Gouveia 71 “Viúvas de Sal”, herdeiras do malLuiz Eduardo de Carvalho PARTE DOIS — ARTIGOS 79 Apatia sem pátriaFlávio R. Kothe 95 Alguns equívocos dos gramáticosJosé Augusto Carvalho PARTE TRÊS — Sobre os coautores 111 Adelto Gonçalves112 Arturo Gouveia113 Cícero Émerson do Nascimento Cardoso114 Ester Abreu Vieira de Oliveira115 Flávio R. Kothe116 Joel Cardoso117 José Augusto Carvalho118 Luiz Eduardo de Carvalho119 Rodrigo da Costa Araujo120 Wilbett Oliveira 121 Crédito das imagens. (shrink)

A comunicação pretende sinalizar que o debate entre a “filosofia sem espelhos”, de Richard Rorty e a teoria do agir comunicativo, de Jürgen Habermas, pode ser entendido como exemplo ímpar de crítica e cooperação na busca da verdade filosófica. A estratégia de apresentação se configura em dois procedimentos distintos: Em um primeiro momento proceder-se-á à demarcação sumária da presença do pensamento de Habermas em textos característicos de Rorty e vice-versa. A seguir, será empreendida uma tentativa visando mostrar que a relação (...) entre o pensamento de Rorty e o de Habermas é dialética, isto é, ao mesmo tempo crítica e cooperativa. O objeto principal do debate entre ambos tem a ver, principalmente, com a correta interpretação da virada linguística efetuada na filosofia contemporânea: até que ponto ela implica o abandono puro e simples da teoria da modernidade e do conceito de racionalidade, de Kant, o que implicaria uma verdadeira autodemissão da filosofia? Qual deve ser o critério do novo discurso filosófico: a comensurabilidade científica ou a incomensurabilidade de um não-consenso edificante? (shrink)

Prevalence of contract cheating and outsourcing through organised methods has received interest in research studies aiming to determine the most suitable strategies to reduce the problem. Few studies have presented an international approach or tested which variables could be correlated with contract cheating. As a result, strategies to reduce contract cheating may be founded on data from other countries, or demographics/situations which may not align to variables most strongly connected to engagement in outsourcing. This paper presents the results of a (...) series of statistical analyses aimed at testing which variables were found to be predictors of students’ self-reported formal outsourcing behaviours. The data are derived from an international research study conducted in 22 languages, with higher education students (from Europe, the Americas and Australasia. Analyses found that country and discipline of study as well as the rate at which respondents n = 7806) believed other students to be cheating, were positively correlated to their cheating behaviours. Demographic variables did not show strong statistical significance to predicting contract cheating. (shrink)

This book focuses upon the perennial question of the existence and nature of an obligation to obey the law. Leading writers have, at one time or another, emphasized considerations such as gratitude, 'divine ordering, ' prudence, contract, autonomy, and utility in seeking to justify, or to deny any justification for, some sort of obligation to obey the positive law. The book provides relevant selections from a sampling of the historical approaches to legal obligation taken by writers such as Plato, Augustine, (...) Aquinas, Hobbes, Locke, Hume, Rousseau, Thoreau, Bentham, Marx and Engels, and Martin Luther King, Jr. These classical discussions are augmented by critical questions and commentary, by independent discussions of the question of legal obligation by a wide range of contemporary writers, and by relevant judicial cases discussing matters such as conscientious objection and civil disobedience. (shrink)

European Journal of Philosophy, EarlyView.

This research deals with the records and memories of aging that are presented as modes of existence excluded under the tutelage of a society massified by technology and language as a constructor of social reality. In this way, we observe the legacies and experiences lived by the elderly, inferring the phenomenologicalhermeneutic thinking as another paradigm of experience of rooting the relationship between man, world and technique. From the qualitative and descriptive bibliographic methodology, we discuss, at first, some of the possible (...) effects of technological and aesthetic massification in the impersonalization of aged Dasein. Then, we infer the point of view that language and language establish worlds, influencing the social conception of the elderly. With this, the objective is to glimpse other possible ways of announcing the relationship of the elderly, and understanding of their existence, with contemporary time strongly constituted by the relations hegemonically guided by the technique. (shrink)

I answer Alvin Plantinga's challenge to provide a ‘proper’ de jure objection to religious belief. What I call the ‘sophisticates’ evidential objection' concludes that sophisticated Christians lack epistemic justification for believing central Christian propositions. The SEO utilizes a theory of epistemic justification in the spirit of the evidentialism of Richard Feldman and Earl Conee. I defend philosophical interest in the SEO against objections from Reformed epistemology, by addressing Plantinga's criteria for a proper de jure objection, his anti-evidentialist arguments, and the (...) relevance of ‘impulsional evidence’. I argue that no result from Plantinga-style Reformed epistemology precludes the reasons I offer in favour of giving the SEO its due philosophical attention. (shrink)

Undergraduate medical ethics education currently focuses on ethical concepts and reasoning. This paper uses an intern’s story of an ethically challenging situation to argue that this emphasis is problematic in terms of ensuring students’ ethical practice as junior doctors. The story suggests that it is aligning their actions with the values that they reflectively embrace that can present difficulties for junior doctors working in the pressures of the hospital environment, rather than reasoning to an ethically appropriate action. I argue that (...) junior doctors need skills for implementing their ethical decisions and that these ought to form a central component of undergraduate medical ethics education. (shrink)

SummaryThis article examines the Scottish philosopher James Beattie's controversial work of moral philosophy An Essay on the Nature and Immutability of Truth, noted for its pugnacious attack on the sceptical philosophy of David Hume. Usually treated only as an ephemeral success in the early 1770s, the Essay actually had two distinct periods of enormous popularity that account for its contemporary significance in the period between 1770 and 1830. The prominence of the Essay is demonstrated by its widespread positive reception, evinced (...) in both published and private responses, in both England and Scotland, by the high estimation in which it was held within pedagogical circles as an anti-sceptical philosophical primer, and by its continual use as a textbook in both university and dissenting academy logic and moral philosophy classes. In these senses, Beattie's Essay was arguably the most significant work of the Common Sense School of Scottish philosophy. (shrink)

The third book in the Criminalization series examines the constitutionalization of criminal law. It considers how the criminal law is constituted through the political processes of the state; how the agents of the criminal law can be answerable to it themselves; and finally how the criminal law can be constituted as part of the international order.

BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. Modernidade, pluralismo e crise de sentido ; a orientação do homem moderno Aurino José Góis RIBEIRO, Renato Janine. A república . RIBEIRO, Renato Janine. A democracia . João Carlos Lino Gomes SUNG, Jung Mo. Sementes de esperança. A fé em um mundo em crise. Flávio Senra.